Dr. Diogo Figueiredo

Minha primeira corrida de rua: agora eu sei o que vocês passam

Fiz a minha primeira corrida de rua da vida no dia 25/06/2023. Sim, eu fui atrás de um novo desafio para entender cada passo do caminho que os meus pacientes percorrem.

Em abril desse ano, após uma consulta com um paciente que estava iniciando nas corridas de rua, decidi que iria viver aquilo que ele vivia para entender como é estar do outro lado. Mas para isso decidi colocar uma meta. Seria uma prova de 5 km. Foi aí que conversando com dois grandes amigos (Gabriel e Rodrigo), que também nunca tinham corrido provas de corrida de rua, decidimos definir uma prova e nos prepararmos para ela. Éramos 3 iniciantes em um esporte. A prova escolhida foi o Circuito das Estações. 

E aí começou a saga. Fiz exames cardiológicos (Ecocardiograma, Ergoespirometria e Eletrocardiograma, sem alterações) e fiz uma bioimpedância para comparar minha composição corporal antes e depois dessas semana.

Foram aproximadamente 90 dias de treino, planilhado pela equipe da “Corrida Perfeita”, um site/app formado por profissionais de educação física e fui então realizando os treinos. Logo de cara senti uma dificuldade para alinhar meus treinos da corrida com os treinos da academia que eu já fazia para hipertrofia. No momento eu estava em fase de déficit calórico visando perda de percentual de gordura. Além da dificuldade em alinhar os treinos de corrida, existiam treinos específicos de fortalecimento que precisei colocar na planilha de treino de força para que eu pudesse desenvolver músculos importantes para a corrida. Existiram também os educativos. Para qualquer esporte, a técnica da realização do esporte é fundamental. Embora correr seja algo relativamente “comum”, pois o fazemos desde que aprendemos a andar, praticar essa atividade em um esporte necessita de uma coordenação e ativação muscular adequada para uma melhor eficiência da corrida e uma menor chance de lesão. Esse foi o meu primeiro obstáculo e o meu primeiro erro: aumentar o volume e a intensidade do treino com falhas na técnica.

Após cerca de 20 dias do início dos treinos, comecei a sentir algumas dores, sempre na perna direita. Senti dores na panturrilha, coxa e quadril. Tinha alguma coisa errada com a minha corrida, e não era, a meu ver, um déficit de força, mas sim um erro na TÉCNICA da corrida. Foi aí que precisei de uma ajuda e fui atrás dos profissionais que eu sabia que poderiam me ajudar: a fisioterapia esportiva.

Iniciei então um trabalho de reeducação da corrida e pude entender onde estavam minhas falhas. Com Cássio (fisioterapeuta) e Vitor (aluno de fisioterapia), da USP, foram encontradas falhas que foram responsáveis pelas dores que senti. Foi identificada uma deficiência de ativação da musculatura do core que deixou meu quadril muito solto e com uma sinergia de movimento atrapalhada, gerando uma sobrecarga na musculatura flexora do quadril (estava sobrecarregando o músculo iliopsoas – primeira lesão). Além disso, eu possuía uma corrida com muita oscilação vertical, ou seja, eu “saltava” correndo e isso estava sobrecarregando minha panturrilha (que possui músculos que fazem a flexão plantar que é exatamente o movimento do salto – segunda lesão). Aprendi então a ativar melhor meu core, crescer minha postura para evitar oscilações e a entender que a corrida é para frente e não para cima. Empurrar o chão para trás vai me jogar para frente. E isso fez toda a diferença. Foram quase 2 meses de fisioterapia com melhora das dores e talvez o meu maior ganho: uma corrida mais EFICIENTE. 

Sim, eu estava com um pace (ritmo) de 6:06 antes da fisioterapia e após o trabalho de reeducação do gesto esportivo fui para um pace de 5:26. Cássio e Vitor, agradeço demais por todo suporte. Vocês foram FUNDAMENTAIS.

Após a fisioterapia precisei fazer uma viagem e perdi cerca de 2 semanas de treinos. A corrida estava chegando e eu tinha diminuído a quantidade de treinos e isso me deixou frustrado, mas não desanimado. Treinei o que deu para treinar diante das circunstâncias.

No dia anterior à prova coloquei em prática o que falo em consulta. Um consumo adequado de carboidratos 24h pré-prova, dormi cerca de 9h na noite anterior à prova, além de ter realizado uma boa hidratação durante o dia. Chegar descansado, hidratado e com estoques de glicogênio (através do consumo de carboidratos) deve ser o básico para evitar um comprometimento do desempenho.

No dia da prova tomei um café da manhã com uma boa quantidade de carboidrato, tomei minha cafeína e fui para o local. Me encontrei com Gabriel e Rodrigo, fomos para a largada e partimos no pelotão da frente.

Durante a prova, Rodrigo já saiu mais na frente e fiquei durante cerca de 2,5 km acompanhando Gabriel, num pace próximo de 5:10. Na minha cabeça eu cheguei a estranhar o pace que eu estava porque nos treinos eu não atingia esse valor, era sempre mais lento, mesmo em treinos mais fortes.

Acabei passando Gabriel após a primeira subida de uma ponte e fui seguindo. Me incomodou o fato do fone de ouvido não estar funcionando bem (acho que pelo excesso de aparelhos ligados por bluetooth no local) pois eu estava colocando uma música com metrônomo de 180 bpm (fazia parte das orientações dos fisioterapeutas, pois quanto mais tempo eu passava no ar, maior a chance de saltar e de gastar energia para realizar esse movimento, e por isso era importante diminuir a chance de ter impacto ao solo através da diminuição da fase aérea da minha corrida, pois foi assim que surgiu a lesão da coxa – foi a terceira lesão – com o impacto ao solo em uma corrida de sprint). Bom, segui. Aos 3,86 km a monitorização pelo relógio parou de funcionar (acho que pelo mesmo motivo que mencionei do fone). Nessa hora eu estava MUITO cansado, mas a sensação de saber que a linha de chegada estava próxima me fez tentar manter o ritmo.

Ao ver a linha de chegada liguei o modo sprint. Finalizei a prova com um tempo total de 26:07 e um pace de 5:13. Nunca tinha feito um tempo desse. A sensação ao final da prova era de exaustão total. Passei alguns minutos para me recuperar e logo em seguida veio a sensação de felicidade de ter chegado no meu melhor.

Ver meus amigos chegando no melhor deles me fez ficar muito feliz. Gabriel, meu amigo e meu paciente, havia colocado um objetivo de completar os 5km em menos de 30 minutos e fez 28:05 com pace de 5:37, e Rodrigo (que é um dos caras mais eficientes nos esportes que faz – joga futebol muito bem, além de jogar tênis de qualidade) conseguiu terminar com o tempo de 25:08 e um pace de 5:02 e também fez sua melhor performance.

Ao final, não sei se voltarei a correr em provas oficiais. Confesso que ainda tenho maior predileção pelo basquete e tênis, porém a corrida sempre será minha aliada para a melhora da minha saúde. Atingir um objetivo como esse me fez entender sobre os desafios e etapas que os meus pacientes passam de conciliar treinos, sentir dores, fazer fisioterapia, realizar exames de segurança cardiovascular, entender as falhas e corrigir, seguir uma planilha, ter uma dieta focada para o objetivo e melhorar o desempenho.

Agora posso falar para o meu paciente corredor:

– Sim, eu entendo você, já passei pelo que você está passando. 

Escrito por Diogo Figueiredo

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